VIVER SEM FRONTEIRAS
Autor: Wagner Pedro Menezes
Um jeito mariano de ser gente é ser servo. Quando projetamos em nós essa atitude, o plano maravilhoso que o ato da criação nos traçou, ficamos submissos a Ele. Tornamo-nos servos; seguidores incontestes.
A vida terrena tem limites. O mundo é que não. A inversão dessa realidade é o comportamento rebelde dos que não se submetem aos planos de Deus. Rebelar-se também é uma maneira de fugir pela tangente, omitir-se diante de um desafio.
Mas afinal, do que estou falando? De tudo um pouco. Dos exemplos bíblicos, da servidão de Maria, da vida em comunhão, da presença eucarística em nossas vidas, da fidelidade e assiduidade a ela. A diretriz de uma vida santa exige a soma de tudo isso.
Nossa fé nasceu da submissão de uma mulher, aquela que aceitou em seu ventre o milagre da encarnação divina. A partir dela e através dela, a humanidade conheceu o privilégio de fazer-se “um” com Deus, deixar-se transubstanciar, isto é: operar em cada indivíduo o milagre da presença de Deus, a condição de templo do Senhor, sacrário vivo que manifesta ao mundo a grandiosidade do corpo místico, sua Igreja.
Assim entendo a vida eucarística. Dizendo sim ao projeto divino da redenção, através do Cristo, também fazemos germinar em nós sua presença. Também nos tornamos parte do corpo eucarístico. Também nos transubstanciamos. Deixamos de lado a condição meramente humana e irradiamos com nossa presença, palavra e ação o mistério da mesa eucarística: Cristo presente entre nós e em nós. Pelo menos assim deveria ser.
Acontece que ainda não penetramos a fundo o mistério que cerca esse privilégio na vida comunitária. Santo Agostinho percebeu a ação de Deus em nossas vidas ao escrever: “Nós, agora, somo inclinados a praticar o bem, depois que o nosso coração o concebeu, inspirado pelo Espírito”. De fato, todo aquele que se deixa transformar pela ação do Espírito concebe em sua vida a presença de Deus. Manifesta Cristo ao mundo. Sua vida já não tem fronteiras, limites que impeçam a prática evangélica, o bem.
A presença eucarística também se manifesta na vida dos que se servem à mesa do milagre. Todo alimento empresta suas qualidades aos que nele buscam forças. Princípio claro para a vida biológica. O que se dirá do alimento espiritual que tomamos no altar? “Este é meu corpo, meu sangue”! Este é o maior privilegio do mundo cristão, deixado como fonte de energias para nossa perseverança. “Tomai, comei, bebei”. Em outras palavras, diria Jesus: “Fartai-vos em vida, alimentai vosso espírito com minha presença, deixai-vos transformar em mim, sedes extensão da minha ação no mundo, aplacais a sede humana de justiça e paz, ofereçais ao mundo a água viva que o meu coração derramou por vós, o sangue puro que emprestei ao mundo para a transfusão de vossas vidas. Vossas vidas em mim e eu em vós”!
Esse é o mistério da nossa fé. O mesmo que deixamos escapar quando não praticamos uma vida eucarística mais coerente. Eucaristia é presença viva, sem fronteiras, sem barreiras. Age em mim, age em você, no mundo. Ao comungar, adquirimos a vida de Cristo, a força de Cristo, a vontade de Cristo, a coragem, a ação… Por isso é mistério. Por isso o grande pensador da nossa fé, Agostinho, confessou-se publicamente através de seus escritos e concluiu: “Quem dos homens poderá dar a outro homem a inteligência deste mistério? Que anjo a outro anjo? Que anjo ao homem? A vós se peça, em Vós se procure, à vossa porta se bata. Deste modo, sim, deste modo se há de receber, se há de encontrar e se há de abrir a porta do mistério”. A concepção de Maria se repetirá em nós. As fronteiras que inibem nossa missão serão vencidas. E conheceremos um novo mundo: o mundo com Deus.
Comment (1)
Amém. “A verdade sempre volta para aqueles que a praticam”. Paz. Deus o abençõe.
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