DÍZIMO COMO PRÁTICA EMPREENDEDORA NA GESTÃO ECLESIAL
O termo “entrepreneur” nasceu na França, por volta dos Séculos XVII e XVIII para designar aquelas pessoas que promoviam o crescimento econômico e o bem social a partir de atitudes ousadas, criativas e inusitadas. Popularizou-se no século XIX com o economista francês Jean-Baptiste Say, e mais tarde, com o austríaco Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas do século XX que definiria esses indivíduos como os agentes de mudança na economia.
A terminologia pode parecer nova, mas as características que definem um empreendedor estão registradas na história da humanidade desde os primórdios. Não haveria evolução e desenvolvimento humano não fosse seu espírito empreendedor. Poderia citar centenas de nomes como referência, mas, de modo especial, para este artigo, destaco alguns personagens bíblicos cujos feitos nos indicam, pelo testemunho, caminhos de enfrentamento para os enormes desafios da atualidade. Principalmente aos gestores eclesiais, que acumulam funções. São líderes religiosos à frente de uma instituição sem fins lucrativos, atendem, como diretores espirituais, as pessoas e grupos e ainda administram os bens temporais de suas paróquias e dioceses. A natureza do cargo exige posturas de empreendedor.
Vejamos alguns casos em que relaciono o perfil empreendedor aos feitos:
Iniciativa – visão de futuro
Noé – Na construção da Barca.
Organização e capacidade de planejar
Davi e a arca da aliança.
Correr riscos e assumir responsabilidades
José, filho de Jacó enquanto ministro no Egito.
Perseverança e capacidade de liderar
Moisés, durante a saga da libertação.
Podemos discorrer páginas elencando tais exemplos. Todas as personagens do Antigo ou do Novo Testamento poderiam iluminar aspectos positivos ou não, acerca do tema empreendedorismo. Judas, por exemplo, teve péssima atuação à frente da comunidade enquanto ecônomo. Esqueceu-se que fazer dinheiro era atividade meio e não atividade fim. Por outro lado, Jesus é reconhecido por grandes nomes da administração moderna, como o maior empreendedor que o mundo conheceu. Sua maneira de pensar, agir, projetar-se, antever situações, liderar pessoas, lançar propostas, solucionar problemas, são estudadas por especialistas das mais variadas áreas da ciência da administração.
E o que o dízimo tem a ver com isso?
A prática de contribuir com o dízimo está ligada aos processos da atividade meio que organizam o povo de Deus desde a elaboração das leis mosaicas. Aliás, o projeto de Deus, desde o início, é de que sejamos acolhidos, formados e enviados e possamos viver tudo isso em comum unidade, com metas da atividade fim ‘para lá’ de audaciosas. Nada menos que a salvação da alma, do que a vitória da vida sobre a morte e a conquista da vida eterna.
O dízimo deu suporte, por décadas, à liderança firme e bem-sucedida de Moisés. Foi essencial na organização do assentamento das tribos e na implantação do reinado de Israel. Segundo historiadores e relatos de Atos dos Apóstolos, o crescimento e a disseminação do cristianismo contou com três pilares: a) Ensino dos apóstolos (Catequese) b) Oração e a fração do pão (Liturgia) c) Colocar tudo em comum (Dízimo).
A pandemia – causada pela COVID -19 – desconcertou lideranças políticas e expôs as fragilidades do setor público, questionou o modelo de consumo neocapitalista do setor privado e não poupou o terceiro setor. O isolamento social, único meio eficaz de preservação durante meses, deixou sequelas, na sociedade que transcendem as de ordem econômicas e se farão sentir por mais uma década.
Nós, católicos, também fomos pegos desprevenidos. Milhares de paróquias e dezenas de dioceses não estavam equipadas com os recursos tecnológicos adequados, tampouco tínhamos pessoas capacitadas na pastoral do dízimo, nos conselhos econômico e de pastoral, para soluções de curto prazo. Muitas paróquias, porém, onde práticas empreendedoras que já haviam sido implementadas ou estavam em processo de implantação, não apenas conseguiram superar a crise como tiveram aumento nas receitas e geraram oportunidade de comunicação com os fiéis. Aliar a pastoral do dízimo à Pastoral da comunicação e dar a ambas os recursos tecnológicos necessários, foi decisão acertada de muitos administradores paroquiais.
A abertura para as oportunidades do marketing digital, a utilização das redes sociais para fins pastorais, disponibilização de aplicativos digitais e equipamentos para recebimento do dízimo, foram e continuam sendo decisões empreendedoras. Somente empreendedores ousam investir quando os recursos são parcos, veem oportunidade onde para muitos é caos, criam possibilidades quando muitos agravam os problemas.
O dízimo continua a exercer seu papel na organização do povo de Deus. As mudanças sociais serão acentuadas nos próximos anos exigindo de nossos gestores inovação, criatividade e ousadia. Muito pouco podemos fazer sem a presença do dízimo, contudo, vale lembrar que não vale fazer tudo por dinheiro. Tomemos Jesus como modelo de empreendedor e não Judas, que apesar de escolhido pelo mestre, não foi capaz de compreender sua proposta.
ARISTIDES LUIS MADUREIRA
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