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Poço de Jacó

Poço de Jacó

O encontro de Jesus com a samaritana frente ao poço de Jacó traz-nos sobejo alimento para nossa preparação à celebração da Páscoa. Jesus pede a água material para saciar sua sede física. Ele prova ter natureza humana. Ao mesmo tempo ele promete à mulher a água viva que sacia a sede de infinito, trazida da fonte do amor de Deus. O conhecimento manifestado pelo Mestre sobre a história da vida da samaritana a faz vislumbrar-se e anunciar a todos a presença do Messias (Cf. João 4,5-42). Na vida desregrada dela podemos contemplar as dificuldades e os entraves da convivência humana nem sempre acertada com os ditames da proposta divina.

No poço humano de nossa caminhada encontramos a variedade de situações angustiantes. Não por menos tratamos na Quaresma sobre o porquê da vida no seguimento a Jesus Cristo. No colóquio com Ele vamos percebendo a dimensão do humano entrecruzado com o divino. O desejo da água viva do Messias nos faz pessoas com vontade de crescimento. Precisamos da água e de tudo o que é material. Mas devemos saber usá-los na perspectiva da vida de sentido. Na realidade das injunções humanas e desumanas encontramos todo tipo de convivência, inclusive à do tráfico de pessoas. Aí acontece a exploração dos mais frágeis pelos inescrupulosos, tirando vantagem econômica dos feitos escravos, comercializados, agredidos física, sexual e moralmente. Crianças, jovens, mulheres são usados como meio de ganho, crianças usadas como fontes de extração de órgãos para serem transplantados em outras pessoas de outros lugares. Há mão de obra escrava, discriminações e desrespeito à dignidade humana. Tudo isso se nos é apresentado à consideração na Campanha da Fraternidade para o colocarmos no encaminhamento da fé transformadora, levando-nos a assumir a água viva do Cristo que nos faz ressuscitar para uma vida de verdadeira justiça e fraternidade. Sem compromisso com a promoção da vida humana digna e justa não há celebração da Páscoa! Ele se dá na conversão para vivermos da água viva do amor de Deus, que nos faz solidários e comprometidos em também darmos aos outros a vida que Jesus nos trouxe.

Somos convidados a participar do encontro de Jesus com a samaritana junto ao poço de Jacó. Talvez sejamos como aquela mulher, necessitada da mudança de vida, sendo alimentados com a água viva do Salvador. Com ela vamos chamar as pessoas para escutarem e seguirem a Jesus. Precisamos de descruzar os braços para implantarmos em nosso convívio os valores do Senhor. A cidadania é desrespeitada demais. As famílias são esfaceladas com a mentalidade consumista e hedonista. A juventude precisa de quem lhe dê um norte diferente da droga, da corrupção política, do descompromisso com os valores da justiça, da promoção da formação e educação na fé para assumirmos os valores éticos e da convivência fraterna. Isto se faz na doação de si, na busca de um ideal de promoção da vida digna para todos, a partir dos mais deixados de lado e descriminados.

A formação da fé nos leva a seguirmos os passos do Mestre e obtemos a paz, tão necessária no convívio humano, como lembra Paulo: “Irmãos, justificados pela fé, estamos em paz com Deus” (Romanos 5,1).

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros