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Pastoral do Dízimo: os desafios da evangelização nos momentos de crise

Pastoral do Dízimo: os desafios da evangelização nos momentos de crise

Autor: Dom Edson Oriolo

O atual cenário econômico brasileiro tem impactado a vida eclesial, exigindo de nossas paróquias e comunidades de fé que se adaptem rapidamente ao atual contexto para viverem o Evangelho. É um desafio exercer a missão evangelizadora nesse momento de crise, pois é fundamental proporcionar ambiente digno aos fiéis que buscam nossas igrejas para encontrar-se com Deus, especialmente na celebração do mistério pascal do Senhor Jesus.

 

Pressionados por uma realidade financeira adversa e pelo dever de cuidar dos bens da igreja, os ministros ordenados acabam, muitas vezes, por assumir posturas que atropelam a liturgia e o sentido das celebrações. Os avisos no final das missas, por exemplo, que deveriam informar sobre as atividades pastorais, ganham novo perfil.
Passam a ser momento de apelos – publicidades de festas, quermesses, promoções e artigos religiosos. Embora sejam por uma boa causa, as iniciativas tornam-se
verdadeiras feiras semanais – ou dominicais – animadas por tecnologias visuais. Assim, contrariando as orientações litúrgicas, os avisos paroquiais ou comunitários passam a ocupar o lugar que deveria ser dedicado à evangelização. Não se limitam mais aos locais apropriados – quadros de avisos, informativos, subsídios litúrgicos ou espaços virtuais.

 

Independentemente da situação vivida pela paróquia ou comunidade, é necessário evitar que se ambientem matérias totalmente estranhas às celebrações eucarísticas, a exemplo dos comunicados sobre quermesse, festa beneficente, venda de salgados e doces, bailes, feijoadas, pedido de contribuição em dinheiro, cheque, cartão de crédito. Muitas paróquias e comunidades chegam até mesmo a colocar no presbitério motos, televisores e outros “prêmios” que serão sorteados durante uma “ocasião especial”.

 

Não se trata, aqui, de condenar a realização das festas e quermesses, pois elas são importantes meios de confraternização e de arrecadação para a vida eclesial. Jesus
iniciou seu ministério numa festa – as bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11) – e coroou sua missão na instituição da Eucaristia, outro momento celebrativo (cf. Mt 26,17-20; Mc 14,12-26; Lc 22,7-39; Jo 17,26; 1 Cor 11,23-26). É importante preservarmos esses eventos paroquiais, mas, vale sublinhar, criando outros meios e recursos para sua divulgação.

 

Todos sabem das necessidades – e dificuldades – das dioceses, paróquias e comunidades para garantirem sustentabilidade às suas ações, especialmente neste contexto de crise econômica. Mas não podemos fazer de nossas celebrações eucarísticas um lugar de propaganda comercial (cf. Jo 2,13-25). Precisamos resgatar a dimensão do mistério eucarístico, sem se esquecer de algo muito importante: são os que participa conscientemente das celebrações eucarísticas que mais ajudam a Igreja, espiritualmente e materialmente, na tarefa de sustentar a ação evangelizadora, o cuidado com os pobres e a infraestrutura das comunidades de fé.

 

Assim, a melhor solução para essas questões é, sem dúvida, a Pastoral do Dízimo, ou seja: entender o dízimo como pastoral e evitar fazer das celebrações lugar de captação de recursos. É importante, no contexto desta pastoral, promover encontros e reflexões em que os fiéis têm oportunidade de se manifestarem sobre as estratégias para a sustentabilidade dos projetos da Igreja. Assim, é possível construir um projeto bem elaborado e articulado nas paróquias. Com as indicações dos fiéis, a partir de atenta escuta, podemos encontrar as melhores soluções, considerando as especificidades de cada realidade, a exemplo da distribuição de envelopes para as contribuições e utilização de recursos midiáticos. O autor Peter Drucker ajuda-nos a entender essa realidade com sua máxima: “Converter necessidade em demanda”. No nosso caso, isso significa transportar todo o esforço dedicado à elaboração de propagandas a serem veiculadas nas celebrações para as iniciativas capazes de dinamizar a Pastoral do Dízimo.

 

Para isso, é necessário assumir riscos e sair do comodismo. É preciso acreditar na possibilidade de se conceber novas ideias, capazes de solucionar os problemas enfrentados pela Igreja. Cabem novas escolhas, metodologias, processos, planejamentos estratégicos e ações para conscientizar os fiéis sobre suas responsabilidades na manutenção de templos, no cuidado com a evangelização e no amparo aos pobres.

 

A Igreja necessita da Pastoral do Dízimo, e a Pastoral do Dízimo precisa de pessoas apaixonadas pelo Reino, comprometidas com a Igreja e dedicadas à missão, bem mais do que de peritos contábeis ou entendidos em publicidade, administração e gestão. O ideal é que os trabalhadores do reino considerem as exigências irrenunciáveis da atualidade, com disposição para articular conhecimentos técnicos e gestão eclesial dentro dos critérios da espiritualidade, da transparência, da ética e da probidade.

*1 Dom Edson Oriolo, bispo auxiliar de Belo Horizonte. Escreve para revistas e periódicos sobre paróquias, gestão eclesial, pastoral urbana e pastoral do dízimo.

 

Veja também nosso livro que dá dicas de como resolver o tradicional problema paróquia com não-dizimistas: Fazei a experiência.

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