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Décimo-primeiro mandamento: NÃO POLUIRÁS

Décimo-primeiro mandamento: NÃO POLUIRÁS

O primeiro Papa, que assumiu o nome do Santo de Assis, dedicou a sua segunda Carta-encíclica à ecologia, ao “cuidado da casa comum”, a Mãe-Terra. A “Laudato Si” (Louvado sejas) vai muito além da Igreja: Francisco dirige-se a toda a humanidade, como fez Papa S. João XXIII, com a “Pacem in Terris” (Paz na Terra), quando se dirigiu “a todos os homens de boa vontade”. Em sua primeira Exortação Apostólica, “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho), de 2013, Papa Francisco confirmou: “A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora. A felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem. Vale a pena ser bons e honestos. Somos responsáveis pelo nosso próximo. Enquanto não forem atacadas as causas estruturais das desigualdades, não encontraremos solução para os problemas do mundo”.

    Não é exagerado dizer que a “Laudato Si” está em pé de igualdade com a “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, de 1891, que foi o grito da Igreja daquele tempo pelos direitos trabalhistas em um mundo reinventado pelas fábricas no apogeu da Revolução Industrial. Segundo o mais recente relatório da ONU, o ser humano tem 95% de responsabilidade sobre as alterações climáticas. Nas últimas décadas, nenhum assunto ganhou tamanho unanimidade quanto a necessidade de frearmos o que está na origem dos atuais danos ambientais. O nome da Encíclica foi tirado do Cântico das criaturas de São Francisco de Assis: “Louvado sejais meu Senhor”. Uma novidade dessa mensagem papal é o fato de ter sabido conjugar o tema da justiça social com o tema da ecologia, até agora tratado de modo separado.

    É a primeira vez que, em uma Encíclica papal são citados textos do episcopado do mundo inteiro. Ao lado deste fôlego colegial, há outros dados absolutamente novos e surpreendentes: são citados textos de cristãos, pertencentes à outras Igrejas; dois parágrafos apresentam o pensamento e a ação incansável do Patriarca das Igrejas de todo o Oriente, Bartolomeu, chamado “Patriarca verde”. Entre os autores, citados na Encíclica, notamos a presença, também de um filosofo protestante: Paul Ricoeur. Uma surpresa ainda maior é encontrar uma referência de um místico muçulmano sufi, do século XV, Ali Khawwas. Inúmeras são as referências a pensadores católicos, como, por exemplo, Romano Guardini e ao famoso cientista jesuíta, Teilhard de Chardin.

    As páginas do Gênesis, que narram a criação do mundo e as do Novo Testamento, que contemplam a criação são relidas como obra trinitária. O mundo foi criado pelo Pai celeste com duas mãos: as mãos do Verbo Eterno e as do Espírito Criador. A terra é considerada “trono do senhorio de Deus”. Judaísmo e cristianismo libertaram o homem da idolatria e da alienação dos elementos celestes e terrestres; ensinaram a considerar o mundo como uma comunidade de criaturas “boas e belas” e que é dever do homem guardar, ordenar, proteger esta esplêndida obra divina, na espera de um “novo céu e uma nova terra” (Apc 21,1).

    Francisco abriu caminhos, onde os maiores líderes mundiais e os mais famosos cientistas, sociólogos e economistas enfrentaram frustrantes impasses e barreiras. Em abril deste ano, no Vaticano, foi organizada uma Conferencia pela Pontifícia Academia de Ciências sobre as mudanças climáticas e a pobreza no mundo: os dados oferecidos por esta Conferencia serviram de rascunho para a Encíclica. Os líderes religiosos sentaram-se à esquerda, os cientistas de frente para os prelados. No pódio central, sentava o secretário geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-Moon. Foi uma cena dos “novos tempos”, que estamos vivendo de diálogo, mútua confiança e colaboração entre a ciência e a fé para ajudar a encontrar soluções sábias e eficazes para os perigos, que está enfrentando a nossa “Casa comum”.

    Há grandeza em usar dados científicos para uma mensagem religiosa: grandeza que falta ao mundo da ciência e da técnica de hoje, que transformaram a ciência em ídolo e hipóteses cientificas em dogmas. A mensagem de Francisco é urgente e clara: para salvar o planeta-terra, nós, humanos, devemos nos salvar juntos com a Mãe-Terra. Ao lado dos dez mandamentos bíblicos, agora, é preciso acrescentar mais um outro: “Ama a Terra, como a ti mesmo”. O texto de Francisco, grande dom feito à Igreja e à humanidade, termina com a súplica de Alan de Lille, monge do século XII, que coloca na boca da Mãe-Terra a seguinte invocação: “Homem, escuta! Por que ofendes a mim, tua Mãe? Por que fazes violência contra mim, que te gerei das minhas entranhas? Por que me violentas com o teu arado, para me explorar a fim de eu produzir o cêntuplo? Não te bastam as coisas que eu te dei! Não precisa arranca-las pela violência…!”


Pe. Ernesto