DEVER PRIMORDIAL dos GOVERNANTES
Na Basílica de São Pedro, em Roma, o Papa Francisco, no dia 14 de abril deste ano, pronunciou o memorável discurso: “No século passado, a nossa humanidade viveu três grandes e inauditas tragédias. A primeira, geralmente considerada o primeiro genocídio do século XX, atingiu o povo armênio, a primeira nação cristã”. O Pontífice citou outros dois eventos, que espalharam destruição e morte: o nazismo e o estalinismo. Os nazistas mataram nos campos de concentração, entre 1939 e 1945, mais de 6 milhões de pessoas, sobretudo, de judeus. Este genocídio, “holocausto”, ficou conhecido como “shoá”, palavra hebraica, que significa “catástrofe”. Mais recentemente – disse o Papa – houve outros extermínios de massa: os do Camboja, da Ruanda, do Burúndi e da Bósnia.
O terceiro genocídio, que o Papa recordou, foi o estalinismo: regime político da União Soviética, inspirado na teoria do filosofo alemão, Carlos Max, e no ditador Josef Stalin. Este regime foi caracterizado pelo unipartidarismo, pela luta de classe e pelo materialismo-ateu. Durante este governo, houve o genocídio de populações inteiras, como o do povo ucraniano e das nações dos Estados satélites: muitos tiveram que deixar suas terras e fugir para o estrangeiro. Em 1991, o regime sofreu um colapso: o balanço apresentado foi de quarenta milhões de pessoas mortas por condenação política. Genocídio, vem de “genos”, que na língua grega significa: povo, nação, família, tribo; e do verbo latino “caedere”, que significa “matar”. Genocídio designa o extermínio de um povo, o assassinato de massa, a eliminação de uma nação.
Muitos pesquisadores consideram, porém, que o primeiro genocídio do século XX, aconteceu no Sudoeste da África, entre 1904 e 1907, na colonização da Namíbia, por parte dos alemães, em que foram assassinadas mais de 500 mil pessoas pertencentes aos grupos étnicos Hereros e Namagua. Os habitantes do lugar eram criadores de gado; ficaram revoltados contra os colonizadores europeus, que buscavam ouro e diamantes: foram sistematicamente perseguidos e empurrados para o deserto e lá eliminados. Os genocídios, ocorridos ao longo dos tempos, porém, não enfraqueceram os povos, mas reforçaram neles a certeza de que os que tombaram buscavam um ideal de liberdade, dignidade e fraternidade para todos.
Em 1550, estimava-se a população indígena, no Brasil, em 5 milhões de pessoas; em 1570, já eram a metade… Desde os indígenas da América do Norte até os da América do Sul, passando pelas tribos da África e as minorias da Ásia e dos Balcãs, muitos povos indígenas foram aniquilados. Antônio Conselheiro, em Canudos, no sertão baiano, em 1897, organizou um arraial, em que a produção era posta em benefício de todos para contornar a seca e a exploração dos militares. Canudos foi destruída e mais de 250 mil sertanejos perderam a vida. Também, no Vale do Cariri, Ceará, em 1937, a Comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Sertão, liderada por José Lourenço, foi invadida por latifundiários e pelas forças, do governo: foram assassinadas mais de 500 mil pessoas: sepultada em valas comuns, sob a acusação de ser uma comunidade livre, igualitária e solidária.
O Sumo Pontífice, neste pronunciamento, declarou “inadmissíveis as grandes distancias sociais e a indiferença dos que têm posses e do Estado, para com os pobres e necessitados”. Não há como negar, em nosso pais e na sociedade mundial, a existência dos fossos sociais. “São cada vez mais numerosos – afirma o Papa – as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais. Não podemos esquecer – ressalta o papa – que os bens da terra têm um destino comum, nem deixar de contemplar a imensa dignidade dos pobres à luz dos mais belos e profundos ensinamentos de Cristo”. O dever primordial dos governantes é o de erradicar a miséria e promover o desenvolvimento integral de cada cidadão, combater o consumo escandaloso de setores de nossa população e a chaga da corrupção.
Erradicar, enfim, a criminalidade organizada, o tráfico de pessoas, o narcotráfico e toda forma de violência. “Não podemos esquecer – afirma o Papa – que cada criatura, por refletir algo de Deus, tem uma mensagem para nos transmitir e um dom para nos dar”. Não só a criatura humana, mas todo o universo material é uma linguagem de amor por parte de Deus, do seu carinho sem medida por nós. “O solo, a água, as montanhas, o ar, a lua, as estrelas, a noite, o dia: tudo é carícia de Deus” – ensina o Papa Francisco, em sua notável encíclica “Laudato Si”. Sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunidade sublime, que nos impele a um respeito mútuo, sagrado e amoroso. O Papa nos convida, enfim, a não perder a oportunidade de dizer no momento certo uma palavra gentil, a dar um sorriso, a fazer gestos, que semeiam paz e amizade ao nosso redor.
Pe. Ernesto